quinta-feira, 6 de março de 2014

Fernando Pessoa

Gosto muito de Fernando Pessoa e olha que não sou fã de poesia, mas as dele realmente me cativam.
Não é atoa que o cara é considerado o maior poeta da língua portuguesa juntamente com Luís de Camões e também um dos maiores da literatura universal.
Hoje deixo uma de suas poesias bem conhecida, mas que me encanta sempre que leio.

Não sei quantas almas tenho


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.

Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.

Noto à margem do que li
que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.

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